Na superfície, as coisas parecem calmas. Um estranho andando pelas ruas não teria a impressão de que uma eleição presidencial está prestes a acontecer. Olhando pela janela, percebo que as bandeiras brasileiras, que agora representam apoio a Bolsonaro, foram retiradas das fachadas vizinhas. Um sinal ambíguo: pode ser uma resposta preventiva à derrota, ou a calmaria antes da tempestade. Não há muita conversa entre amigos e familiares sobre a eleição; as linhas foram traçadas em 2018 e não mudaram muito desde então.
No entanto, apesar de toda a polarização social, ainda há um enorme apoio à democracia aqui: 75 por cento dos cidadãos pensam que é melhor do que qualquer outra forma de governo. Desde o início, Lula vem tentando explorar esse sentimento comum e abrir uma frente ampla contra Bolsonaro. Ele escolheu um ex-adversário de centro-direita, Geraldo Alckmin, como companheiro de chapa; ele cortejou assiduamente os líderes empresariais; e teve o apoio de proeminente centristas. Nesse clima de camaradagem, os apoiadores do candidato de centro-esquerda, Ciro Gomes, atualmente 6 por cento nas urnas, ele pode até jogar seus votos atrás do ex-presidente. Se isso acontecer, certamente Bolsonaro será derrotado.
Essa perspectiva gloriosa faz pouco para aliviar a ansiedade que engole o país. É fisicamente impossível não pensar no que poderia acontecer. As chances são assustadoras: as pesquisas podem estar erradas e Bolsonaro pode ganhar. As pesquisas podem estar certas e Bolsonaro pode se recusar a admitir a derrota e até mesmo dar um golpe. Cada dia agora parece ser a duração de um dia em Vênus, cerca de 5.832 horas, de acordo com a turbulência no meu feed do Twitter.
Há simplesmente muito em jogo. Por um lado, há o próprio processo democrático, que Bolsonaro colocou à prova. Por outro lado, há o futuro do nosso judiciário. Só no ano que vem, haverá dois lugares vagos no Supremo Tribunal, num total de 11 lugares. Se chegar ao poder, Bolsonaro certamente aproveitaria para eleger juízes de extrema-direita, como fez com seus dois últimos indicados. Uma remodelação do judiciário no estilo Trump pode estar chegando no futuro.
Depois, há o ambiente. Até aqui este anoMais incêndios florestais foram registrados na Amazônia brasileira do que em todo o ano de 2021, o que já foi catastrófico o suficiente. Desde o início de setembro, plumas densas de fumaça cobriram vários estados brasileiros. Sob o governo Bolsonaro, o desmatamento aumentou, agências ambientais foram desmanteladas e mortes indígenas aumentaram. Reverter essas desastrosas políticas ambientais não poderia ser mais urgente.